Traumas Psicológicos do Etnocentrismo Religioso

Traumas Psicológicos do Etnocentrismo Religioso

Imagine que você começou a participar de outra crença. Automaticamente, os comentários dos membros da igreja que você frequentava seriam: “Fulano(a) se desviou, está desviado dos caminhos do Senhor. Aquele irmãozinho ou irmãzinha está no mundão.”

Eles automaticamente retiram o seu sagrado direito de pensar diferente. É inaceitável, para eles, que você tenha seu próprio conjunto de crenças que não sejam iguais ao deles. Enquanto você praticava tudo o que queriam, a igreja o acolhia como filho ou filha queridos. A partir do momento em que você toma uma decisão diferente, os laços da irmandade são cortados, e você se torna um pecador, um desviado.

A ajuda também pode ser condicionada. Por exemplo, a igreja que sempre ajudava uma família com uma cesta básica corta essa ajuda quando o patriarca decide seguir outro caminho. Minha pergunta é: ele não continua sendo um irmão? Eles querem que você seja irmão apenas dentro da igreja deles, mas tudo que for diferente disso será considerado errado. A família não sente fome do mesmo jeito? A ajuda estaria condicionada à frequência no local ou aos valores cristãos?

Conheço casos marcantes. Um irmão que frequentava determinada igreja encontrou-se no kardecismo. Quando os membros de sua antiga denominação descobriram, ele foi alvo de duras críticas. Diziam: “Irmão fulano vai para o inferno, está envolvido com espíritos enganadores, e Deus irá pesar a mão nele.” Em outro caso, um irmão que passou a frequentar a umbanda perdeu o emprego porque trabalhava na empresa de um dirigente da igreja que frequentava. Em resumo, se você não segue o que eles querem, você será taxado como errado.

O etnocentrismo alimenta julgamentos injustos. Certo dia, fui visitar um amigo em uma mesquita. Após algumas visitas, o Sheik me chamou para conversar. Disse, em árabe, traduzido por meu amigo: “Já vi você aqui algumas vezes. O que falta para você se converter ao Islã?” Respondi que achava linda a religião deles, mas perguntei: “Posso continuar visitando amigos na sinagoga?” A reação foi de desaprovação. Ele me disse: não se serve a dois senhores. Argumentei: “Alah e Hashem não são o mesmo Deus? Todos não somos irmãos, filhos do mesmo Pai amoroso?” Mas percebi o mesmo olhar de desaprovação presente em muitos líderes religiosos. Ter ideias diferentes é punido com julgamento.

Ignorância gera preconceito. Muitas vezes, as pessoas são maldosas com o que não conhecem. Por isso, é necessário coragem para experimentar e acessar lugares fora dos muros do nosso próprio dogma. O etnocentrismo religioso nos faz acreditar que estamos no caminho errado, quando, na verdade, cada experiência é uma oportunidade de aprendizado.

Etnocentrismo Religioso na Mesma Religião

Curiosamente, isso também ocorre entre membros de uma mesma crença. Se alguém da Igreja Metodista encontra um membro da Congregação Cristã do Brasil, e faz a saudação “A paz do Senhor”, poderia esperar a mesma saudação. No entanto, a resposta é um pouco diferente: “A paz de Deus”, como se fosse mais correta. O foco aqui não é a terminologia, mas a crença de que apenas uma forma de saudação é válida.

Julgamentos acontecem o tempo todo. Por exemplo, pessoas que fazem tatuagens podem ser mal vistas, enquanto micropigmentações não sofrem críticas. Quem participa menos das atividades da igreja recebe olhares diferentes. Embora seja importante respeitar os costumes de cada local, isso não deve ser imposto. Tentar converter alguém que já segue outra fé ou vertente um pouco diferente é desrespeitoso.

Os traumas do etnocentrismo religioso são profundos. Pessoas que mudam de religião muitas vezes enfrentam isolamento social, sentimento de culpa e medo de punição divina. Esses traumas podem levar à depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e crises de identidade. A grande questão é: a pessoa deixa de ser um irmão quando sai de sua comunidade religiosa? Será que só somos aceitos enquanto participamos das reuniões? Ou todos somos, de fato, irmãos universais?

Devemos refletir sobre isso. É fundamental respeitar as diferenças, acolher as pessoas e reconhecer que todos, independentemente de crença ou religião, são parte da grande fraternidade que se chama mundo.

Artigo por Irmão Barbosa


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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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O que é o Tolerâncialismo?

O que é o Tolerâncialismo Movimento filosófico que propõe a união de religiosos e irreligiosos, a partir da amizade entre as pessoas, tendo a religião e a irreligião como algo secundário. A investigação nos vales das religiões, filosofia e ciências deve ser a busca de todo tolerancialista. Primeiramente, deve ser celebrada a amizade entre as … Continue lendo O que é o Tolerâncialismo?