A miscigenação brasileira e a criação do seu conjunto de crenças.
Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, é um dos marcos da literatura e da sociologia brasileira. Publicado em 1933, o livro examina as origens e a formação de nossa sociedade.
Senhores de engenho (representados pela “casa grande”) e os escravizados (representados pela “senzala”). O escritor apresenta a tese de que o Brasil tem uma formação única por ser uma sociedade mestiça, onde se misturaram influências de três principais grupos étnicos: indígenas, africanos e portugueses.
O autor mostra como essa mestiçagem se deu tanto nos aspectos culturais quanto nos biológicos, através de relações sociais, religiosas e sexuais entre senhores e escravizados.
Onde o choque dessas três culturas proporcionou o seguinte: uma complexa fusão religiosa entre indígenas, africanos e portugueses, que contribuiu para a criação de uma religiosidade sincrética e única no Brasil colonial.
A influência da religião católica por meio do povo português, nossos colonizadores, que buscavam catequizar tanto indígenas quanto africanos escravizados. Embora os africanos e indígenas fossem obrigados a seguir o catolicismo, eles adaptaram elementos católicos a suas próprias crenças.
Os africanos trouxeram para o Brasil uma rica tradição de religiões e rituais, como o candomblé, que possuía uma forte conexão com a natureza e uma visão espiritual diversa da cristã. Mesmo pressionados para abandonar suas crenças, muitos escravos encontraram maneiras e subterfúgios para preservar suas práticas, disfarçando-as com a iconografia católica. Por exemplo: orixás africanos foram associados a santos católicos; Iemanjá foi sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, enquanto Ogum foi identificado com São Jorge. Esse sincretismo religioso permitiu que as tradições africanas sobrevivessem e fossem sincretizadas ao catolicismo, criando uma nova expressão religiosa.
Espiritualidade Indígena e seu Papel na Mistura Religiosa: Já os indígenas influenciaram o imaginário religioso colonial, principalmente por meio de práticas de cura e rituais que foram assimilados tanto por africanos quanto por portugueses.
Alguns costumes indígenas foram incorporados no cotidiano, como o uso de ervas e práticas de pajelança, que mais tarde foram absorvidas em rituais de candomblé e umbanda. Os indígenas, assim como os africanos, mantiveram práticas espirituais paralelas ao catolicismo, resultando em uma troca cultural complexa.
Foi criada uma religiosidade popular, que não era completamente católica, mas carregava símbolos e rituais dos três grupos. Festas como a de São João, de caráter católico, incorporaram elementos africanos e indígenas.
Reverência e culto aos ancestrais: Outra área de junção religiosa foi o culto aos mortos, que tinha significados distintos para cada um dos três grupos, mas acabou sendo uma prática partilhada e adaptada. Os africanos traziam uma forte tradição de veneração aos ancestrais, que foi associada aos santos e mártires católicos, enquanto os indígenas também mantinham uma espiritualidade ligada à memória de seus antepassados. Esse respeito e devoção aos mortos resultaram em práticas de sincretismo religioso em cerimônias como o Dia de Finados, com rituais que mesclavam rezas católicas, danças africanas e oferendas indígenas.
Tais elementos hoje são muito vistos nesses três grupos. Reformando parte de cada credo dado a essa interculturalidade religiosa, o convívio de três povos tão distintos começa as bases de uma grande reforma nos sistemas de crenças de cada grupo, criando uma religiosidade híbrida.
Essa adaptabilidade construída por três povos diferentes mostra a construção de conhecimentos, onde cada povo colabora com parte de seu conjunto de crenças, para construir uma grande reforma. O Tolerancialismo prega por essa grande reforma, mas de maneira pacífica e ordeira, tendo as religiões, as ciências, as filosofias e as ordens iniciáticas como uma grande família que troca conhecimentos para construção de um conhecimento maior.
A evolução de uma nova linha de pensamento, onde é criado um novo diálogo inter-religioso de caráter colaborativo entre povos e suas culturas, onde não haja uma supremacia, são as bases do Livro de Toleran e a métrica maior do Tolerancialismo.
Artigo: Irmão Barbosa.
Dedicado ao irmão: Adriano Augusto Veloso Balbino da Silva.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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