Para a grande maioria das pessoas, o cemitério é um local de tristezas e reflexões. Sob o olhar lúgubre do corvo, o cemitério se revela como um parque de diversões, onde a celebração é silenciosa e o riso cede espaço ao sussurro do vento entre as lápides.
O corvo observa os vivos visitarem os mortos com flores que, por ironia, também estão a morrer. Tudo segue de encontro à finitude: nossos pais, filhos, pessoas que amamos, nada escapará do beijo gelado da morte.
Cada lápide é o registro de uma história encerrada, onde o corvo se apoia enquanto observa as pessoas transitarem lamentando suas perdas. Para ele, a morte não é inimiga, mas parte do ciclo eterno que renova o mundo.
Esquecemos que a beleza da vida reside justamente em sua transitoriedade. O corvo é o mensageiro da inevitabilidade, um símbolo de tudo o que não podemos evitar.
Ele segue apenas observando, entre seus voos e pousos, a arte tumular que compõe o cenário daquilo que tem como seu lar.
O vento frio fere a pele dos vivos, mas não afeta o corvo, pois ele é parte da paisagem, um fragmento do infinito que paira sobre o cemitério. Ele sabe que, assim como as folhas caem no outono e renascem na primavera, o ciclo continuará, imutável.
E, quando a última luz do dia se apaga, o corvo abre suas asas negras como a noite, pronto para lembrar aos vivos que, mesmo no silêncio, a vida nunca deixa de conversar com a morte.
Assim é a vida. O que é triste para alguns pode ser divertimento para outros, mas, no final, até mesmo o corvo deixará o mundo dos vivos e se unirá à natureza.
Artigo: Irmão Barbosa
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