O Pombo de Skinner e a Fé: Entre Superstição e Esperança

O Pombo de Skinner e a Fé: Entre Superstição e Esperança

Nos anos 1940, o psicólogo B.F. Skinner realizou um experimento intrigante que se tornou um marco na psicologia comportamental. Colocando pombos em uma caixa com um dispositivo automático de alimentação, Skinner programou o aparelho para liberar comida em intervalos fixos, independentemente do que o animal estivesse fazendo.

O resultado foi surpreendente: os pombos passaram a repetir obsessivamente certos movimentos — girar em círculos, bater as asas, mover a cabeça de determinada forma — como se acreditassem que esses comportamentos estavam invocando a comida.

Skinner chamou isso de comportamento supersticioso. Na ausência de uma ligação causal real, o pombo criou uma ilusão de controle, acreditando (com o corpo) que seu gesto era responsável pela recompensa. Assim, reforçado aleatoriamente, o comportamento se instalava.

Agora, tiremos o pombo da caixa e coloquemos o ser humano no mundo. A semelhança é inquietante.

Muitas pessoas recorrem à fé — seja nas campanhas de oração nas igrejas evangélicas, nas simpatias populares, ou nos trabalhos espirituais da umbanda e do candomblé — com a esperança de que essas ações desencadeiem uma resposta do mundo espiritual, uma mudança na realidade, uma bênção, uma cura, um milagre. Mas até que ponto há, de fato, uma relação causal? E até que ponto estamos apenas repetindo comportamentos que acidentalmente coincidiram com um desfecho favorável?

Imagine alguém que, em meio a uma crise financeira, participa de uma “Campanha da Prosperidade” em uma igreja. Semanas depois, consegue um emprego. Imediatamente, associa uma coisa à outra. É a fé que trouxe a resposta. Mas… e se a vaga estivesse para surgir de qualquer forma? E se o tempo fosse o único fator necessário? A partir daí, essa pessoa pode repetir o mesmo tipo de campanha diante de qualquer dificuldade futura — como o pombo girando no canto da caixa.

Isso significa que a fé é inútil? Não necessariamente. A fé, diferentemente do comportamento supersticioso dos pombos, pode ter efeitos psicológicos e sociais profundos. Ela mobiliza esperança, organiza o comportamento, encoraja a ação, fortalece vínculos e ajuda a suportar a dor. No entanto, o perigo está em acreditar que certos rituais garantem resultados sobrenaturais, criando uma dependência de gestos, orações ou oferendas como se fossem teclas mágicas de um controle remoto espiritual.

A pergunta provocadora, portanto, é: estamos nos movendo por fé ou por condicionamento?

Será que nossas crenças são fruto de experiências genuínas ou são comportamentos reforçados por coincidências, pelo medo do caos ou pela necessidade de sentido?

A fé tem um lugar legítimo e poderoso na vida humana, mas talvez devêssemos reconhecê-la mais como força interna do que como um botão para manipular o mundo. Porque, no fim das contas, há uma grande diferença entre ter esperança e acreditar que um gesto específico pode, por si só, mudar o destino — como o pombo que gira em círculos, esperando a próxima ração cair do céu.

Artigo: Irmão Barbosa.


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O que é o Tolerâncialismo?

O que é o Tolerâncialismo Movimento filosófico que propõe a união de religiosos e irreligiosos, a partir da amizade entre as pessoas, tendo a religião e a irreligião como algo secundário. A investigação nos vales das religiões, filosofia e ciências deve ser a busca de todo tolerancialista. Primeiramente, deve ser celebrada a amizade entre as … Continue lendo O que é o Tolerâncialismo?