A Prisão das Telas, o tempo, a régua e a alavanca. As telas têm roubado o nosso tempo: o notebook, o smartphone, a TV, o holograma e o telão desviam a atenção do que realmente vale a pena. Estamos encarcerados na penitenciária das telas. Os diretores dessas prisões são os senhores do nosso tempo, que controlam e manipulam nossa vida como bem entendem; já não temos vontade própria. Somos fortemente influenciados; eles escolhem para nós roupas, carros, moradia e até o que iremos comer. O engraçado é que nos fazem acreditar que somos nós que temos o poder de decisão, quando, na verdade, já se anteciparam e nos sugestionaram a tomar a decisão deles e não a nossa.
Assim, ladrões de nosso tempo são as redes sociais. Em média, o brasileiro gasta cinco horas e 12 minutos por dia em computadores e três horas e 55 minutos em dispositivos móveis. No ranking de países que mais acessam redes sociais, o Brasil aparece na terceira posição, atrás apenas das Filipinas, segundo publicação da revista Exame.
O que é o tempo
Santo Agostinho, em seu livro Confissões, livro XI, descreve o tempo da seguinte forma:
“Se ninguém me pergunta, eu sei; se me perguntam e quero explicar, não sei mais.”
Se não houvesse seres viventes, só haveria o espaço; o tempo não poderia ser contabilizado, e esse não existiria. O tempo só existe no presente, não há tempo no futuro ou no passado; o tempo é o agora. Pois o passado já passou, não podemos tocá-lo novamente, e o futuro não nos permite acesso. O agora, este sim, está aqui, diante de nós.
O tempo não deveria ser medido em anos, meses, dias ou horas, mas em instantes. Pequenos instantes importantes que marcaram a nossa vida; a coleção desses episódios deveria se chamar “tempo”.
Primeiros instrumentos de medição do tempo
Na civilização grega, havia a necessidade de contar o tempo enquanto os oradores falavam em processos de acusação e defesa. Medir o tempo pelo sol ou pela lua seria totalmente ineficaz, e surgiram instrumentos como a clepsidra, um dispositivo em que a água escorre; quando a ampulheta está vazia, o fluxo cessa.
O relógio mecânico, por sua vez, estabelece o tempo como uma sucessão de intervalos iguais. Com a revolução industrial, veio uma disciplina de fábrica: o bater do cartão, o horário do almoço, tudo se tornou automatizado.
Máquinas de poupar tempo
Telefone, avião, carro; para estocar o tempo: computador, pendrive. Temos também as máquinas de programar o tempo: despertadores, agendas e calendários. As tecnologias visam criar ferramentas para acelerar o fluxo de informações. Teoricamente, tudo ficaria mais rápido; mas o que acontece é exatamente o oposto:
Perdemos tanto tempo em tantas ferramentas que acabamos desperdiçando nosso precioso tempo com futilidades e ferramentas desnecessárias. Cronobiologia, sensação de claro e escuro, dia e noite, tempo que voa.
A tecnologia criou um vazio onde tempo e espaço foram rompidos; todos estão conectados superficialmente, mas isolados na vida real. Um ao lado do outro, mas separados pelo abismo tecnológico.
Tanto lixo cibernético criou a síndrome do pensamento acelerado. Chegará um momento em que será impossível responder às pilhas de e-mails, WhatsApp e todo esse lixo cibernético. As pessoas se tornaram ditadoras, exigindo respostas na velocidade da luz, e isso está caminhando para se tornar uma doença crônica.
Essa desorientação criará uma geração incapaz de distinguir o que é bom do que é ruim; isso poderá gerar um caos cultural, onde o imoral será considerado arte, e a moralidade, antiquada. A única maneira de sermos senhores de nosso tempo é nos apropriarmos do presente.
Assim, o tempo virou a moeda mais valiosa de todos os tempos, que trocamos por trabalho. Quem pode viajar e estar com a família, sem precisar dedicar todo o seu tempo ao trabalho, pode se considerar um afortunado. Os milionários serão uma minoria, pois sua riqueza será o pensamento fora da caixa, o domínio do próprio tempo. Estar desconectado e viver a vida sem ser escravo será privilégio de poucos iluminados.
Somos escravos do tempo
Se estamos nas redes sociais, o mundo capitalista nos diz que estamos desperdiçando nosso tempo com futilidades. Se trabalhamos o tempo todo, nossa mente nos condena a buscar entretenimento nas redes sociais. Ou seja, somos prisioneiros de duas prisões, uma física e outra tecnológica.
Na prisão tecnológica, além de sermos detentos, somos condenados a prestar serviço gratuito às redes sociais, fornecendo conteúdo para a manutenção de suas máquinas de entretenimento. Produzimos para os novos senhores da revolução tecnológica, e o pior, fazemos isso gratuitamente.
Antigamente, os mercadores se apropriavam dos escravos e usavam seu tempo como bem entendiam. Notem que pouco mudou em relação aos assalariados, que trocam seu tempo por dinheiro. O proletariado vende o seu tempo ao capitalista, pois é apenas o que possui, vendendo partes de sua vida em troca de migalhas.
O tempo acaba enterrando pessoas vivas, pois, embora morram em sua idade cronológica, se tivessem mais cinco ou dez anos, poderiam desenvolver muito de seu potencial criativo. A mente de algumas pessoas permanece em pleno vigor, enquanto seus corpos sucumbem diante do fim iminente. Por hora, o tempo nos torna mortais.
O segredo para desfrutar o tempo consiste em se livrar da prisão
O poder da alavanca consiste em pensar fora da caixa, usar a nossa força em um ponto de apoio determinado para mover as amarras e os tapa-olhos que nos foram impostos pelos senhores do nosso tempo. Usando a régua e a alavanca, poderemos destituí-los e nos tornar, assim, os senhores do nosso próprio tempo. A Prisão das Telas, o tempo, a régua e a alavanca.
Gostaria de fazer uma pergunta aos meus irmãos:
Tendo em vista que trocamos a maior parte de nosso tempo por dinheiro, se seu dinheiro fosse ilimitado, o que você faria com o seu tempo?
A Prisão das Telas, o tempo, a régua e a alavanca
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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