O filme Herege apresenta uma análise contundente sobre os sistemas religiosos e a busca pela verdade espiritual. Ao longo da narrativa, somos confrontados com questões filosóficas profundas que expõem os mecanismos de controle das religiões, bem como a ambiguidade das intenções de seus líderes.
O protagonista, o Herege, atua como um espelho crítico das estruturas religiosas, revelando os paradoxos e as fragilidades que sustentam tais sistemas.
O Controle nas Religiões
O Herege explora como as religiões, desde suas fundações, funcionam como sistemas de controle. Por meio de metáforas e comparações, ele expõe a similaridade entre os textos sagrados, sugerindo que há uma repetição ou adaptação de narrativas antigas — como os mitos de Mitra e Krishna, que antecedem a história de Jesus.
Essa visão desconstrói a singularidade de qualquer religião, apontando para uma possível origem comum ou, como ele sugere, para um jogo de manipulação histórico.
A relação entre missionários e vendedores de ideologias é um ponto central. Assim como no plágio do jogo Monopoly, o Herege questiona: os sistemas religiosos são, em essência, apenas versões adaptadas de um mesmo jogo de poder? A resposta parece residir na afirmação de que a religião é, antes de tudo, um sistema que dita regras, promove dependência psicológica e mantém seus adeptos presos em uma casa metafórica — uma prisão de crenças.
A Desconstrução da Fé e a Falsa Correlatividade
O filme também aborda como as experiências pessoais, muitas vezes, são falsamente correlacionadas com verdades absolutas ensinadas pelas religiões. Quando o Herege encontra um chip contraceptivo no braço de uma missionária mórmon, ele questiona a contradição entre a prática pessoal e os ensinamentos dogmáticos. Esse momento simboliza a hipocrisia que permeia muitas crenças organizadas, onde as regras impostas nem sempre são seguidas por seus próprios líderes ou representantes.
A desconstrução vai além da lógica, atingindo o campo emocional. O Herege joga seus interlocutores contra suas próprias crenças, obrigando-os a confrontar as bases da fé que sustentam suas vidas. Sua pergunta retórica — “Ou tudo é verdade, ou nada é verdade?” — sintetiza a dualidade da religião: a promessa de respostas absolutas para questões existenciais, mas que muitas vezes são contraditórias ou baseadas em interpretações humanas limitadas.
O Herege e os Líderes Religiosos: Diferenças ou Semelhanças?
O Herege busca desvelar a ilusão das religiões, mas sua abordagem levanta uma questão inevitável: ele é realmente diferente dos líderes religiosos que critica? Assim como eles, o Herege manipula cenários para impor sua visão de mundo. Ele guia seus seguidores por um percurso psicológico — da recepção acolhedora à doutrinação sutil, culminando na revelação de uma verdade amarga.
Essa jornada é uma analogia às etapas de conversão das religiões tradicionais: o convite inicial, a doutrinação e, por fim, o aprisionamento emocional e psicológico.
Reflexão Final: Controle e Liberdade.
O filme questiona: por que permitimos que sistemas religiosos ou ideológicos controlem nossas vidas? Desde o nascimento, somos moldados por ideias alheias, aprisionados em uma narrativa que não escolhemos.
A filosofia do Herege, portanto, desafia tanto a fé quanto a descrença. Ele convida o espectador a sair da “simulação” das religiões, a transcender a morte simbólica de ser controlado e a assumir o controle de sua própria existência. Contudo, sua própria postura levanta a questão: no final, ele busca entender o que seria a religião suprema e acaba se tornando os mesmos padrões de controle vistos na grande maioria das religiões que existem.
Quer ser dono de uma verdade absoluta, busca a supremacia frente aos outros sistemas, o que o torna exatamente igual a tudo aquilo que ele tentou combater.
Essa dualidade é o que torna Herege um filme tão provocativo. Afinal, em um mundo onde a verdade é sempre uma construção, talvez a única liberdade seja aceitar que não há respostas absolutas — apenas a responsabilidade de viver sem as amarras impostas por outros.
Se pudermos nos libertar das influências que nos foram ensinadas e buscar em várias portas o entendimento a partir de nossas próprias decisões, e não das decisões que tomaram por nós, esse seria o princípio da liberdade que nortearia nossos caminhos. Cada busca é única e deve ser praticada pelo buscador.
Aquele que tentar padronizar sua verdade e impô-la aos outros acaba se tornando um “líder”. Aquele que pensa ter criado algo libertário e mesmo assim tenta que os outros o sigam e obedeçam, pensando estar libertando todos dos sistemas, infelizmente acaba se tornando como o Herege.
Essa é a grande armadilha que o ego personaliza para nós. Todos somos livres e devemos buscar o nosso caminho, não deixando que o sentimento egoico nos faça acreditar que somos algo, nem líderes de algo, nem como o Herege que pensa ser um libertador e acaba como os líderes que tanto combateu.
A liberdade deve estar à disposição de todos. A busca é pessoal, sem regras ou tentativas de controle, sem sistemas de castigo e recompensa. Decida por si, busque suas respostas, seja seu próprio líder. Ouça todos, mas, na hora de decidir, a decisão é sua. Apenas você será convidado ao banquete de benesses ou consequências.
Artigo: Irmão Barbosa.
+ artigos, acesse: https://toleran.org
Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
Saiba + sobre o Tolerâncialismo: