Kashikomi: A Reverência diante do Sagrado que Habita em Tudo
Ao atravessar os portais de um templo, há quem abaixe a cabeça, junte as mãos e silencie a alma. Este gesto, simples e profundo, é conhecido no Japão como “kashikomi” – um medo reverencial, uma forma de respeito que não nasce do temor, mas da percepção da grandiosidade que nos envolve. No xintoísmo, religião ancestral do povo japonês, o mundo está repleto de kami, espíritos ou divindades que habitam a natureza, os objetos e os seres. Cada pedra, árvore ou sopro do vento pode ser morada do sagrado.
Esse ensinamento nos leva a um olhar diferente sobre o divino: Deus não está distante, isolado em um trono celeste, mas presente em tudo e em todos. Ele pulsa no coração humano, sussurra nas folhas, vibra no silêncio.
Diante disso, o templo não é apenas um espaço de pedra e madeira, mas todo lugar onde o coração se abre com respeito. Ao praticar o kashikomi, curvamos a alma diante da vida – não por submissão, mas por reconhecimento.
Assim, cada pessoa se torna sagrada, cada encontro, um altar. A reverência que oferecemos a Deus também deve ser oferecida ao outro, ao mundo, à existência. O medo reverente não nos diminui; pelo contrário, ele nos eleva. Ensina que a verdadeira força está em reconhecer que não somos senhores de nada – somos parte do todo.
Que possamos entrar em cada lugar, em cada relação, como quem pisa em solo sagrado. E que a humildade do kashikomi nos ensine a viver com mais respeito, presença e amor.
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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