Pense na ampla extensão da mitologia egípcia: são muitos deuses, rituais, inúmeros contos e passagens. Imagine que isso representa apenas um terço da mitologia africana, considerando que o Egito está localizado ao norte da África. A mitologia africana é muito mais ampla do que a egípcia, não se restringindo apenas ao antigo Egito. Alguns historiadores afirmam que certos mitos da mitologia grega são, na verdade, adaptações de histórias africanas.
Para iniciarmos uma pequena introdução sobre os orixás e entidades, devemos começar pelo Ser Supremo da mitologia africana: Olorum. Assim como Zeus na mitologia grega e Odin na mitologia nórdica, Olorum é o Deus supremo. Para os praticantes de religiões de matrizes africanas, como a Umbanda e o Candomblé, Olorum é o mesmo Deus venerado pelos cristãos.
OLORUM:
A palavra Olorum tem origem no idioma yoruba, falado pelos iorubás em diversos países ao sul do Saara. Olorum ou Olodumaré significa “senhor do destino”, “senhor do céu” e “regente do universo”.
O Grande Arquiteto do Universo é chamado por diferentes nomes: os judeus o chamam de Hashem, os indígenas de Tupã, os árabes de Alá, e nas religiões africanas, de Olorum. Comparando a lenda de Olorum com o capítulo de Gênesis, podemos ver similaridades sobre os primórdios da criação.
No início, existia apenas Olorum e o espaço infinito. Ele criou uma enorme massa de água, de onde nasceu o primeiro Orixá, Oxalá. Olorum ordenou que Oxalá criasse o mundo dos humanos.
Com seu hálito sagrado, Olorum criou o universo e os orixás. Estes controlam os quatro elementos da natureza – água, terra, fogo e ar –, além dos reinos mineral e vegetal. Por trás de cada evento terreno, há sempre um orixá regente.
Os Orixás e suas Funções:
OXALÁ:
Oxalá no Candomblé:
Oxalá é o orixá da criação da humanidade, símbolo da paz, pureza e sabedoria. Ordenado por Olorum, moldou os primeiros homens com o barro primordial, enquanto Olorum deu-lhes vida. Sua história fala e ensina sobre humildade, pois, ao desobedecer uma ordem divina, falhou inicialmente em sua missão. Possui duas formas: Oxalufã: Sábio e sereno. E Oxaguiã: Jovem e vigoroso. Representado pela cor branca, Oxalá simboliza harmonia e fé, sendo uma figura de serenidade e equilíbrio para seus filhos.
EXÚ:
No Candomblé, Exu é o orixá mensageiro, conectando o plano espiritual aos humanos. Durante os primeiros contatos dos missionários cristãos com os iorubás, Exu foi confundido com o diabo, devido à falta de compreensão cultural. Com sua personalidade sagaz, astuta e brincalhona, Exú nos ensina sobre liberdade, responsabilidade e equilíbrio.
OGUM:
Ogum é o orixá do ferro e da metalurgia, das batalhas e do trabalho, simbolizando força, coragem e superação. Representa o progresso e a abertura de caminhos. Suas cores são azul e verde, e seus símbolos incluem a espada e a lança. Celebrado às terças-feiras, é associado à natureza e ao sincretismo com São Jorge. Suas oferendas incluem feijão-preto e dendê, reforçando sua ligação com a força e a vitalidade.
OXÓSSI:
Seu nome deriva do povo iorubá Ọ̀ṣọ́ọ̀sì, o caçador. Oxóssi é o protetor das florestas, símbolo de fartura, sabedoria e estratégia. Originário da cultura iorubá, é associado à liberdade e prosperidade, sendo sincretizado no Brasil com São Sebastião. Ele ensina paciência e respeito à natureza, atraindo proteção e abundância.
NANÃ:
Nanã: guardiã do saber ancestral e da lama dos lagos, com a qual os humanos foram modelados. símbolo da criação e dos ciclos de vida e morte. Representa acolhimento, paciência e transformação. No candomblé, é respeitada como a mãe mais velha e guardiã dos mistérios da existência.
OXUMARÉ:
Oxumaré: o Deus serpente, que controla a chuva e a fertilidade, representa o movimento, renovação e equilíbrio. Ligado ao arco-íris e à serpente, é responsável por conectar o céu e a terra, trazendo chuva, fertilidade e abundância. Com energia andrógina, simboliza a dualidade e a polaridade a transformação contínua, sendo essencial para o ciclo da vida e a renovação da natureza.
XANGÔ:
Xangô, Orixá da justiça, do trovão e do fogo, simboliza a força, equilíbrio e verdade. Representado pelo fogo e pelas rochas, foi um rei sábio e muito justo. Suas cores são vermelho e branco, e seu alimento preferido é o amalá. Reverenciado por sua coragem e liderança, é o protetor dos justos e defensor da verdade, Os filhos de Xangô costumam ser pessoas firmes, leais e justas, com um senso natural de liderança.
IANSÃ:
Iansã: senhora dos ventos, tempestades e guardiã dos espíritos dos mortos no Candomblé. Representa força, transformação e coragem, sendo símbolo de superação e movimento. Com cores vermelho e amarelo e o eruexim como símbolo, inspira determinação e liderança. É reverenciada como a guerreira que enfrenta desafios e traz renovação às adversidades da vida.
IEMANJÁ:
Iemanjá: orixá das águas, mãe dos deuses e dos homens, muito reverenciada no Brasil. Representa maternidade, proteção e renovação, simbolizando cuidado e força. Suas cores são azul-claro e branco, e ela é reverenciada com oferendas como flores e perfumes no mar. Associada à fertilidade e à criação, inspira lealdade e sensibilidade em seus filhos. Suas festas, como a de 2 de fevereiro, celebram sua energia acolhedora e a importância das águas na vida e na espiritualidade.
OS IBEJIS:
Os Ibejis, Orixás gêmeos do Candomblé, simbolizam alegria, pureza e proteção infantil. Ligados à dualidade e ao equilíbrio, são filhos dos orixás: Xangô e Oxum são sincretizados com São Cosme e São Damião. Recebem oferendas como doces e brinquedos, e suas cores são rosa e azul. Representam harmonia, renovação e a força da infância, sendo celebrados com festas que exaltam a leveza e a união.
ORUNMILÁ, OU IFÁ:
Orunmilá, ou Ifá, é o Orixá da sabedoria e mestre dos oráculos no Candomblé. Conhecedor do destino, orienta os homens para alinhar suas vidas ao propósito divino, simbolizando equilíbrio e autoconhecimento.
Orixás e os Humanos
Os iorubás acreditam que os humanos descendem dos orixás e herdam suas características. Assim como os orixás, os humanos experimentam emoções intensas, como amor, ódio, conquistas e derrotas. Essa ideia reflete o conceito de que: o que está acima é como o que está abaixo. Sendo herdadas as características dos orixás para seus filhos vejamos essas ideias:
Oxalá: Filhos de Oxalá são serenos, pacientes e justos, transmitindo paz e harmonia. Geralmente têm postura conciliadora e aversão a conflitos.
Exú: Filhos de Exú são extrovertidos, criativos e comunicativos. Adaptam-se facilmente às situações e possuem grande habilidade para resolver problemas.
Ogum: Determinados, corajosos e líderes natos, filhos de Ogum enfrentam desafios com persistência e têm forte senso de justiça.
Oxóssi: Observadores, intuitivos e independentes, os filhos de Oxóssi valorizam a liberdade e estão sempre em busca de novos conhecimentos.
Nanã: Filhos de Nanã são introspectivos, sábios e acolhedores. Têm uma conexão profunda com o passado e agem com calma e reflexão.
Oxumarê: Filhos de Oxumarê são dinâmicos, resilientes e ligados à transformação. Demonstram versatilidade e adaptam-se bem às mudanças.
Xangô: Justos, fortes e determinados, os filhos de Xangô têm um senso apurado de liderança e defendem a verdade com vigor.
Iansã: Filhos de Iansã são enérgicos, impulsivos e destemidos. Demonstram paixão e coragem em tudo o que fazem.
Iemanjá: Protetores, sensíveis e leais, os filhos de Iemanjá têm espírito maternal e buscam a harmonia nas relações.
Ibejis: Filhos de Ibejis são alegres, espontâneos e carismáticos, trazendo leveza e alegria para os ambientes onde estão.
Orunmilá: Filhos de Orunmilá são sábios, introspectivos e ponderados. Gostam de aconselhar e buscam sempre o equilíbrio em suas ações.
Na obra Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi. Vemos que os orixás tem variações de comportamentos, traem, roubam, enganam, fazem conchavos, amam, brigam e praticam boas e más atitudes, a cria sempre segue a matriz, o que os faz diferentes de nós?
Preconceitos e Conhecimento
Muitos preconceitos ainda cercam o Candomblé, fruto da desinformação. Questionados sobre suas opiniões, muitos associam a religião à magia negra sem nunca terem visitado um terreiro. Isso reflete o julgamento apressado e a falta de busca pela verdade.
Da mesma forma, antes de conhecer outros cultos, muitas pessoas acreditavam em ideias equivocadas. Mas, ao adentrar o templo da razão, a venda da ignorância é retirada, permitindo a luz do conhecimento.
Conclusão
Os orixás são manifestações dos aspectos da natureza e das características humanas. Cada orixá personifica tanto o lado positivo quanto o negativo desses elementos. Por isso, compreender as religiões de matrizes africanas é essencial para superar preconceitos e valorizar a riqueza cultural que elas representam.
Conheça antes de julgar. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Artigo: Irmão Barbosa
Fontes: Entrevista com Pai Bruno de Oxóssi; Livro “Mitologia dos Orixás”, de Reginaldo Prandi.
Nota de observação: o sincretismo mencionado nessa obra, se refere as religiões de matrizes africanas praticadas aqui no Brasil. Apenas para esclarecimento.1
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