O Cemitério
I
Reflexões no cemitério. A morte iguala a todos, como um nível, deixando todos na mesma posição, sem diferenciação. No cemitério, temos todos os credos presentes: o católico, o judeu, o muçulmano, e representantes de todas as religiões dividindo o mesmo espaço, em totais condições de igualdade.
Ir ao cemitério e andar sozinho por suas ruas nos faz perceber nossa insignificância e finitude diante da materialidade. É uma grande iniciação rumo ao nosso santuário interior.
Ali, tomamos consciência de todas as nossas limitações terrenas, de que bens materiais são apenas brinquedos que nos são emprestados.
O que perturba o ser humano é a impossibilidade de continuidade terrena, as limitações impostas pelo prazo de validade determinado de seus corpos.
De alguma forma, todos nós perseguimos a imortalidade, e nossa meta deve ser que nossas atitudes e ações em prol da humanidade se tornem a lembrança que nos tornará imortais para as próximas gerações.
II
Levando nossa memória muito além do que levaria um monumento em nossa homenagem, seja ele uma lápide ou um memorial, feitos de matéria que um dia serão destruídos pelo tempo, que acaba com tudo que é material.
Mas que nosso monumento seja erigido no campo do exemplo a ser seguido, da virtude, na transmissão da sabedoria infinita (micro)fragmentada em nós, meros aspirantes a uma cadeira na academia de notáveis do saber.
Só assim a imortalidade pode ser alcançada, pela obra feita em vida, que levará seu nome e seus feitos para o futuro e para as próximas gerações.
Só a obra supera a morte, só a obra nos leva a lugares inimagináveis, aonde as limitações de nosso corpo físico não permitiriam a entrada.
No final de nossas vidas, seremos convidados a fazer a seguinte reflexão:
O que fizemos com todos os tesouros que acumulamos durante esta vida? De que serviram todos os bens materiais que conquistamos?
Se tudo que você ganhou não serviu para tornar mais feliz a vida de alguém, sua passagem por aqui foi semelhante à passagem de uma ameba.
Nossa matéria voltará para a natureza. O que de sua vida ecoará pela eternidade? Como será lembrado pelas próximas gerações? Que história deixará escrita?
Talvez o maior medo da humanidade seja o esquecimento. Certa vez, fui meditar em um cemitério e decidi visitar o túmulo de meus ancestrais. Chegando lá, a foto de meus avós já estava desbotada, e algumas letras de seus nomes haviam desaparecido.
Meu filho me perguntou: “Pai, quem são?” Eu disse: “Foram meus avós, João e Maria, duas pessoas maravilhosas que ajudaram a formar o meu caráter. Meu avô, um velho presbítero protestante, e minha avó, católica desde o nascimento.”
III
O final da memória de duas pessoas tão importantes na minha formação resumia-se a fotos desbotadas e nomes incompletos, e o tempo cuidará para que nem isso permaneça. Segundo meus estudos em gnose, nossa personalidade também será dissolvida.
Exemplo: lá não existirá mais o Fernandes empresário, pai da Júlia, do Paulo e da Fernanda. Em resumo, o que fomos será esquecido.
Naquele momento, percebi nossa insignificância: a terceira geração já não lembrará dos feitos de meus avós.
Quem não contribui para com seu próximo e para com a humanidade terá seu nome apagado dos painéis do mundo, sendo lançado na caixa secreta do esquecimento eterno.
Não que meus avós não tenham contribuído com o próximo; pelo contrário, ajudaram muitas pessoas. Mas, para que não caiamos no total esquecimento, devemos em vida perseguir metas grandiosas, fazer algo que ajude o próximo e continue ajudando até mesmo após nossa partida.
Acumule tesouros de virtude, pois os tesouros materiais são finitos e transitórios, mas o tesouro da virtude e do saber são infinitos e jamais poderão ser roubados de você.
Seria o homem material, leia-se sua carcaça, a substância do planeta, pois se dissolve ao pó da terra de onde veio, que será rearranjado em outra forma conforme as necessidades da natureza.
No final da vida, muitos pedem aos médicos por um pouco mais de tempo, para abraçar seus filhos, perdoar desafetos e correr atrás do que não fizeram. Mas, no auge de sua vida, humilharam pessoas, brigaram com a família, não deram atenção aos filhos e enganaram quem puderam.
Não perca seu tempo com ações das quais vai se arrepender no final de sua vida.
IV
Os espíritos daqueles que se foram merecem nossa prece e o nosso muito obrigado por tantas lições ensinadas. Nossa oração de agradecimento será um doce bálsamo para aqueles que já se foram, nosso reconhecimento e agradecimento devem ser sempre rememorados.
Que sejamos bons aqui na terra, para que possamos nos encontrar no plano superior, e que o tempo de espera seja recompensado pelo reencontro, que supere toda a tristeza da espera.
O solo do cemitério é sagrado, possui o djang, o poder espiritual dos seres ancestrais. Por isso, peça licença ao entrar em um cemitério e adentre de forma respeitosa. Ao sair, faça uma prece de proteção.
Limpe a terra dos sapatos antes de entrar em casa. Tenha um pouco de sal grosso no bolso e despeje na entrada de sua casa. Peça licença e despeça-se de quem, por ventura, possa ter acompanhado você, pedindo proteção mais uma vez, e entregue seus caminhos nas mãos do grande pai universal.
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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