Reflexões sobre Da Brevidade da Vida, de Sêneca
O tempo é o bem mais precioso que possuímos, e Sêneca nos ensina que a vida não é curta — o problema é que a desperdiçamos. Se soubermos administrar nosso tempo com sabedoria, teremos o suficiente para realizar tudo o que realmente importa.
A Arte de Viver com Propósito
Sêneca, um dos maiores oradores e senadores de Roma, conheceu cinco imperadores e deixou um legado filosófico inestimável. Entre suas lições mais impactantes está a importância de tomarmos posse de nossa própria vida.
Não podemos permitir que sentimentos negativos, vícios ou reuniões desnecessárias roubem nosso tempo. Devemos encarar cada dia vivido como uma peça fundamental da engrenagem de nossa existência.
Os problemas fazem parte da construção do nosso eu. Fugir deles é um erro, pois a verdadeira evolução acontece quando os enfrentamos com coragem. Cada desafio superado nos torna mais fortes e nos fornece um novo código para resolver futuros problemas com mais facilidade.
Sêneca nos alerta:
“Quem não possui um objetivo fixo vive ao sabor das marés.”
Um homem sem um propósito definido é como um navio sem leme — deixado à mercê do acaso. Para evitar isso, precisamos traçar um caminho claro, pois é assim que nos tornamos senhores do próprio destino.
O Tempo e as Relações Humanas
É curioso perceber que aqueles que nos dão atenção e se importam conosco, muitas vezes, recebem menos do nosso tempo do que deveriam. Reverenciamos divindades, mas negligenciamos aqueles que estão ao nosso lado e nos amam.
Se não somos capazes de encontrar felicidade em nós mesmos, jamais a encontraremos ao lado de outra pessoa. O autoconhecimento e a paz interior são fundamentais para qualquer relacionamento saudável.
Defendemos com unhas e dentes nossos bens materiais, mas não temos o mesmo zelo pelo nosso tempo. Se alguém tentar invadir nossa casa, reagimos imediatamente, mas se alguém rouba horas preciosas da nossa vida, quase nada fazemos.
No entanto, ao final da jornada, percebemos que imóveis, carros e dinheiro não nos acompanham ao túmulo. O que realmente importa são as experiências e o legado que deixamos.
A Ilusão da Aposentadoria
Vivemos acreditando que um dia, após anos de trabalho árduo, finalmente poderemos aproveitar a vida. Mas quando esse momento chega, muitas vezes já não temos o vigor da juventude para desfrutar das oportunidades que nos cercam.
E se nem sequer chegarmos à velhice? O que adianta adiar a felicidade para um futuro incerto? Sobreviver não é viver. Muitos passam a vida inteira apenas pagando contas, sem jamais sentir o verdadeiro prazer de existir.
A grande armadilha da humanidade é o pensamento de que “um dia eu faço”. Mas, quando esse “um dia” chega, o tempo já foi desperdiçado com ressentimentos, discussões fúteis e preocupações desnecessárias.
A Ilusão das Ocupações Vazias
Sêneca nos alerta sobre a armadilha de nos ocuparmos com muitas atividades sem propósito. Ter inúmeros objetivos sem concretizar nada equivale à inércia.
“Quem se ocupa de várias coisas dificilmente alcançará o sucesso.”
A distração constante rouba nosso foco e nos impede de alcançar grandes realizações. Dependemos de pessoas como dependemos de sombras — não as controlamos e nada podemos fazer para segurá-las.
Se pararmos para calcular quanto tempo já desperdiçamos em reuniões inúteis, brigas, vícios e convivências desagradáveis, entenderemos por que muitas vezes a vida nos parece curta.
A maior parte do nosso tempo deveria ser dedicada a experiências que trazem alegria ao coração. Mas, ironicamente, dedicamos nossos melhores anos aos outros e deixamos para pensar em nós mesmos apenas no fim da jornada.
O Ócio e o Equilíbrio
O ócio excessivo também é um ladrão de tempo. Pessoas que não fazem nada o dia todo sentem um cansaço maior do que aqueles que se dedicam a atividades produtivas. A missão do homem é encontrar o equilíbrio entre trabalho e descanso, sem cair na armadilha da inércia.
Sêneca, por vezes, é severo em suas críticas, chegando a julgar aqueles que se dedicam a jogos, esportes ou atividades literárias triviais. Ele reverencia os filósofos como os verdadeiros mestres do ócio produtivo, demonstrando um certo corporativismo intelectual.
Ainda assim, uma de suas ideias mais valiosas é a de que não podemos escolher nossos pais biológicos, mas podemos escolher nossos pais intelectuais. O conhecimento absorvido nos prolonga, tornando nossa existência relevante mesmo após a morte.
A Busca pela Verdadeira Vida
A melhor parte da nossa vida, muitas vezes, é dedicada ao trabalho. Mas antes que seja tarde, devemos buscar aquilo que realmente nos satisfaz.
Devemos nos refugiar em pessoas e situações que nos trazem paz. Mas também precisamos refletir antes de idolatrar grandes figuras. O preço que pagaram para chegar onde estão pode ser alto demais para nós.
Se queremos evitar uma vida desperdiçada, devemos nos libertar das paixões que nos escravizam e aprender a viver com propósito.
O homem sonha com o futuro enquanto desperdiça seu presente. E assim, sem objetivos definidos, torna-se um barco à deriva, sem rumo e sem controle.
Se há uma verdade incontestável no pensamento de Sêneca, é esta: podemos perder tudo e recuperar depois, menos o tempo.
Artigo: Irmão Barbosa.
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Este Artigo faz parte do Livro de Toleran. O Livro do Tolerâncialismo.
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